Movimentar o corpo, a memória, as palavras e as coisas que nos atravessam na atualidade com vontade de criar arranjos para delirar a vida diante de uma realidade insuportável. É com essa tensão que este curso se envolve, visando provocar uma experiência coletiva impulsionada por tudo o que nos compõe e nos comove. Vasculhar com dança uma capacidade de sentir o sangue correndo na veia que perfura a carne cheia de sonho, que ri, e que chora. Será que algum dia perderemos a capacidade de nos emocionar?

Uma articulação direcionada para a sensorialidade do movimento, com atenção na modulação de tônus e na construção de uma zona tátil que desliza por entre topografias do espaço, des corps e da imaginação em um fluxo contínuo, impulsionando agenciamento da memória, dos embates entre sensação e percepção, a tomada de consciência sobre os padrões motores, repertórios individuais e coletivos capazes de serem evocados, e devorados, com dança na construção de presenças cênicas que transpiram qualidades tangíveis e porosas.

Chamo essa articulação de “rio-mar”: uma prática de dança desenvolvida para que as pessoas praticantes utilizem e ampliem seus repertórios de movimentos pessoais em dialogia a outras pessoas e situações que partilham do mesmo espaço, em continuidade e modulação de tônus (muscular) e tonalidades (imagéticas, estéticas, sensório-perceptivas e cinéticas). A prática compreende estudos da fáscia (o maior órgão sensorial do corpo humano), aliada à apontamentos sobre propriocepção e percepção.

Este caminho também será excitado por uma ideia de “ficção química”, que olha para a ficção enquanto uma extensão háptica da realidade e para a química enquanto agente de emoção que navega nas entranhas da performatividade e suas variedades de representação.