Acaba de vir a público o novo número da revista Olhares. Em sua 11ª edição, a publicação da Escola Superior de Artes Célia Helena (ESCH) reúne dois volumes, que abrem com uma histórica entrevista com a atriz Ana Lúcia Torre, homenageada na capa deste número.
A revista segue com 14 artigos sobre temáticas diversas, que compõem a seção Fluxo contínuo. Já em Dramaturgia Latino-Americana, os holofotes se dirigem para a vida e a obra de Cesar Vallejo (1892-1938), importante poeta e dramaturgo peruano.
Por fim, na seção de resenhas, os destaques são os livros Corpo, transborda, de Marina Caron, e Entre Mira, Serafina, Rosa e Tia Neguita, de Julio Cláudio da Silva.
Alinhado ao compromisso da Escola Superior de Artes Célia Helena com a diversidade de modos de ser, sentir, pensar e expressar-se, a Olhares reforça o respeito perspectivas distintas sobre a fazer teatral, valorizando o diálogo aberto e plural que promova reflexões e caminhos inovadores sobre as artes da cena.
Como destaca Marcos Barbosa, vice-coordenador do programa de Pós-graduação Profissional em Artes da Cena da ESCH:
“A revista Olhares é um espaço essencial de encontro entre criação e pesquisa, promovendo o diálogo entre diferentes níveis de ensino, regiões do país e experiências diversas. Mais que um periódico acadêmico, Olhares reafirma a arte como campo de investigação e experimentação, estimulando debates fundamentais para a formação e expansão das artes cênicas no Brasil.”
Submissões
Desde 2023, a revista Olhares recebe submissões de artigos e ensaios inéditos em fluxo contínuo. Aceitam-se textos que contribuam com pesquisas e proponham reflexões sobre o campo das artes da cena.
O objetivo é criar uma rede de saberes transversais, formada por artistas, docentes e pesquisadores da área, para registro e disseminação de trabalhos e investigações.
Destaque da 11ª edição
Bate-papo com Ana Lúcia Torre
Em conversa mediada pelo dramaturgo, diretor e pesquisador teatral Samir Yazbek, a atriz paulistana partilha com o público, formado por estudantes do Célia Helena, momentos marcantes de sua trajetória. Ao longo de quase cinco décadas, transitando com rara fluência entre linguagens e gêneros dramatúrgicos, Ana Lúcia conta como iniciou a carreia de atriz no recém-criado Tuca (Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Em sua estreia, integrou o elenco de Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, peça premiada com o primeiro lugar em um festival internacional na França, em 1966. Desde então, Ana Lúcia vestiu a pele de inúmeras personagens, tanto em teatro, como no cinema e na televisão.
Sobre as experiências ao longo da carreira: “observo o que está surgindo dos colegas, como vou interagir, o que o diretor está me pedindo e, de repente, aparece um gesto, uma ideia. Tenho que me divertir, seja drama, seja comédia, preciso estar livre, leve e solta para ver o que vai acontecer. Não levo nada, não chego com uma ideia preconcebida na primeira leitura”, revela.
Para quem está ingressando nas artes da cena, a veterana recomenda: “assistam a tudo o que vocês puderem. Assim vocês desenvolvem critérios. […] Então, vejam o máximo de peças que vocês puderem, para identificarem onde se encaixam melhor, o que mais seduz vocês”.
Fluxo contínuo
Os artigos e ensaios desta seção, assinados por pesquisadores, artistas e outros profissionais, expressam a diversidade de olhares sobre a arte teatral.
Os textos passeiam por uma ampla gama de temáticas. Desde a dramaturgia brasileira do século XX, em fragmentos biográficos de Jorge Andrade (1922-1984), passando pelo modo de interpretação inaugurado pelo Teatro de Arena. Dos meandros da criação de um espetáculo cênico-literário em Marabá (PA), passando pelas investigações sobre a permanência dionisíaca no teatro grego e reflexões sobre improvisação, intuição e instante, com base em Gaston Bachelard.
Olhares sobre a diversidade cultural transitam do espaço da literatura africana e afro-diaspórica em sala de aula ao diálogo entre as tradições japonesas da arte floral (ikebana) e da caligrafia (shodô), e a arte naïf.
A performance também marca presença em três textos que versam sobre: a relação entre performance e território; um experimento embasado nas lutas sociais latino-americanas contra o capacitismo e a celebração dos corpos com deficiência; e por fim o movimento Arte pela Democracia e as experiências coletivas de criação de imagens que disputem narrativas.