“nós somos o começo, o meio e o começo”
Nego Bispo
“A Licenciatura em Teatro foi concebida de modo a guardar profundo vínculo com a história, com a missão e com a identidade da ESCH, pautadas pela busca da formação artística e humana de excelência, capacitando profissionais para atuar no mundo do trabalho como professores de artes, especialmente, de teatro, nas redes de escolas que compõem a educação básica.”
— Eleonor Pelliciari
A Escola Superior de Artes Célia Helena convida toda a sua comunidade teatral a participar da Mostra dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Licenciatura em Teatro, um momento de celebração, reflexão e compartilhamento dos percursos investigativos de nossos alunos.
Neste encontro, os(as) estudantes apresentam de forma poética e instalativa os assuntos discutidos em suas pesquisas de TCC. A variedade de temas evidencia a riqueza e diversidade de perspectivas que alimentam nossa Licenciatura em Teatro e sua proposta de uma pedagogia artística crítica e sensível.
Convidamos todos os corpos docente e discente do Célia Helena – Centro de Artes e Educação a se juntarem a nós nessa celebração do conhecimento, da arte e da formação docente.
ELEONORA SCREMIN BRONZOLLI – A potência emocional do som: como a trilha sonora influencia no estado da cena e na ativação da memória afetiva
Sou uma pessoa totalmente conectada com a música. Seja desde meus 2 anos quando já me interessava pelas músicas nas aulas de ballet, ou nos meus 10 anos quando realmente comecei estudar teoria musical e canto, eu sempre estava em contato com essa arte. Em um concerto que realizei com o Coral Voz&Arte – no qual eu integro há 3 anos – que possuía como tema trilhas sonoras marcantes, me surgiu a ideia de trabalhar com esse tema após tantos relatos do público pós concerto. Com o retorno tão emocionalmente significativo do público por essa apresentação, contando sobre as sensações que por eles foram revividas, senti a necessidade pessoal de compreender melhor como utilizar da trilha sonora para potencializar cenas de variadas mídias para trabalhos futuros. Acredito que a trilha sonora possa se tornar um caminho para processos pedagógicos e com ela desenvolver e aprofundar personagens e cenas em montagens e pesquisas teatrais e/ou audiovisuais. Este estudo reflete sobre a evolução e o impacto da trilha sonora no teatro e no audiovisual, destacando sua importância na ambientação e na evocatória de emoções. O estudo começa com uma contextualização da trilha sonora, comparando seu surgimento e desenvolvimento no teatro com sua introdução e evolução no cinema. É avaliado como ambos os meios a utilizaram para enriquecer a narrativa e a experiência do espectador. Além disso, é abordado o efeito da trilha sonora na ativação de memórias afetivas, com base em estudos psicológicos, como de Koelsch, sobre a relação entre música e memória. A pesquisa detalha como as trilhas sonoras podem ser projetadas para evocar emoções específicas e recuperar lembranças do público. Por fim, o trabalho examina técnicas e procedimentos composicionais que contribuem para a criação desses efeitos emocionais, incluindo o uso de campo harmônico, frequências sonoras e estrutura musical. Através da análise de exemplos de compositores renomados e trilhas sonoras influentes, são discutidas as estratégias utilizadas para alcançar e intensificar a resposta emocional do público. Este estudo oferece uma compreensão abrangente do papel multifacetado da trilha sonora, destacando sua importância não apenas na ambientação e narrativa, mas também na evocação de memórias afetivas. O trabalho está dividido em duas partes que se integram continuamente: sendo parte um, a pesquisa sobre o assunto trilha sonora – já utilizando de algumas citações de entrevistados como parte da teoria adquirida e apresentada –, e a parte dois, a estruturação do roteiro usada na produção do documentário – em andamento – sobre o tema citado, que possui entrevistas com diversos trilheiros, maestros e convidados não músicos.
Palavras-chave: Som na cena; Música; Estratégias composicionais; Estudos do som; Memória afetiva; Experiência.
JULIA DA COSTA TERRON – Como unir a Psicomotricidade à Pedagogia Teatral em busca de uma Educação Inclusiva para crianças TEA
Em 2022, aos oito anos de idade, meu irmão recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista. Esse acontecimento, unido à minha trajetória na Licenciatura em Teatro, abriu os meus olhos para essas crianças e os seus espaços dentro da educação, o que impulsionou esta pesquisa. O trabalho apresentado explora os possíveis encontros entre Psicomotricidade e Pedagogia Teatral, e como eles podem melhorar a experiência de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) dentro do universo escolar. Sendo iniciado e finalizado com cartas, a primeira para o meu irmão e a segunda para mim, enquanto professora, ele visa trazer um olhar mais pessoal sobre o tema. Para embasar teoricamente a discussão posterior, temos um Glossário que visa definir conceitos fundamentais como TEA, psicomotricidade, Pedagogia Teatral e autorregulação. O texto destaca a importância da autorregulação na relação de crianças com TEA, enfatizando o papel da psicomotricidade neste processo. A abordagem principal é como a psicomotricidade pode ser inserida dentro da Pedagogia teatral, sendo finalizada por uma proposta de aplicação prática em uma aula de teatro desenvolvida para o meu irmão, pensando em suas particularidades, para que a partir dela possamos mirar na descoberta de novas intencionalidades no desenvolvimento de aulas para turmas com crianças TEA mostrando a intersecção entre arte e desenvolvimento psicomotor.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista; Psicomotricidade; Pedagogia Teatral; Autorregulação.
JULIO NOGUEIRA CAIO — O Galpão: Estudo a partir de uma peça teatral autoral para discutir a arte contra a mecanização do pensamento
Este trabalho propõe um estudo a partir de uma peça teatral autoral no qual o ponto principal seja discutir a relação da arte com o pensamento crítico. O trabalho será dividido em duas partes: A primeira, a dramaturgia da peça em seu primeiro ato, e o argumento do segundo e terceiro atos, que ambiciona gerar um espetáculo no qual o público vai se tornando parte dessa dramaturgia como um estudo contínuo. A segunda parte, será um estudo mais solidificado das questões inseridas e que cercam a dramaturgia. O objetivo da peça é gerar um impacto na qual as pessoas possam perceber que o contato com uma atividade artística, seja ele ativo ou passivo, possa ser um antídoto contra o pensamento mecanizado. O pensamento mecanizado é um pensamento massificado que carece de reflexão crítica, e tal será discutido em ambas as partes desse trabalho. Essa chamada mecanização se impulsiona cada vez mais no contexto global atual, e dentro de um contexto individualista, o teatro se contrapõe nesse lugar como uma forma de contato gerador de um lugar empático e coletivo. Utilizo então a arte teatral como pano de fundo da dramaturgia e como protagonista da discussão, pois é uma atividade fortemente coletiva dentro do campo das artes e que na maior parte de suas atividades necessita do contato humano para ser realizada.
Palavras-chave: Teatro; Pensamento crítico; Coletivo; Consumismo.
LARISSA FERNANDES DA MATTA — Vivenciando o Teatro: Transversalidades e emancipação de si
O presente trabalho tem como objeto de estudo o curso livre “Vivenciando o Teatro”, oferecido pelo Célia Helena Centro de Artes e Educação desde a década de 1980. A elaboração desta pesquisa surgiu a partir de uma inquietação pessoal da autora, que, ao assumir pela primeira vez a função de professora-assistente no referido curso, deparou-se com a ausência de material teórico ou registros sistematizados sobre sua estrutura e fundamentos. Diante dessa lacuna, buscou-se construir um referencial teórico e documental que possibilitasse uma melhor compreensão do curso, seus objetivos, metodologias e impactos. Com o intuito de suprir essa escassez de registros formais, foram realizadas entrevistas com membros da equipe de direção, da coordenação pedagógica e com docentes envolvidos no curso, visando à coleta de dados e à construção de uma base teórica. A pesquisa encontra-se organizada em três partes: a primeira apresenta um panorama histórico do curso e suas características centrais; a segunda consiste em uma curadoria de exercícios desenvolvidos em sala de aula, organizados a partir da transcrição de cadernos de aula pessoais; e a terceira reúne, na íntegra, as entrevistas realizadas exclusivamente para este trabalho, mantendo a oralidade e a espontaneidade das falas como forma de preservar a autenticidade das contribuições. A partir dos dados históricos obtidos por meio das entrevistas e da análise dos fundamentos artístico-pedagógicos que embasam a metodologia do curso – ancorado nos pressupostos teóricos de Constantin Stanislávski, Augusto Boal, Viola Spolin, Jacques Rancière, Paulo Freire e Jorge Larrosa –, constatou-se que o curso contribui e impacta as vivências de seus alunos, o que reforça a importância da arte teatral na vida de não-atores e a disponibilidade de um espaço criativo como agente de transformação. O “Vivenciando o Teatro” pode potencializar o autoconhecimento e as estratégias de comunicação, autoexpressão, liderança e desenvolvimento dos recursos expressivos de seus participantes ao alinhar-se com as carências e vontades desse público no cotidiano social e laboral. Este se constitui como o primeiro material teórico escrito a respeito do curso “Vivenciando o Teatro” e busca ampliar a compreensão sobre suas dinâmicas, valorizando sua trajetória histórica e bases metodológicas, além de responder a essa ausência de material escrito com reflexões acerca do curso. Ao fazê-lo, pretende contribuir para sua legitimação e o reconhecimento como uma proposta relevante no campo da educação artística e do desenvolvimento humano, especialmente por sua capacidade de dialogar com as necessidades e desejos dos participantes em seus contextos sociais e profissionais.
Palavras-chave: Teatro para não-atores; Vivenciando o Teatro; Liderança; Jogos Teatrais; Arte e Educação.
MARIA D’ AGUIRRE — ARANDU: Confluir com a Pedagogia Contracolonyal
Na língua guarani, Arandu significa “aquele que possui a sensibilidade para perceber a própria sombra”. Inspirada nesse conceito, proponho uma jornada de resgate, investigação e reconhecimento das profundas raízes da pedagogia contracolonyal. Como artista-educadora, ativista socioambiental e indigenista de ascendência indígena, busco conectar-me a pedagogias e práticas artísticas contracolonyays, referenciando o projeto Escolas Vivas (coordenado por Cristine Takuá), a implantação da primeira Licenciatura Intercultural Indígena (LINDI) do Estado de SP, o conceito contracolonyal de Nêgo Bispo e Arandu na intersecção entre arte e ancestralidade. “Confluir” e “contracolonyal” são palavras germinadas por Nêgo Bispo – “confluência” representa uma energia de redenção, fortalecimento e ampliação que impulsiona o compartilhamento. Já “contracolonyal” se opõe a palavra “decolonial”: enquanto o prefixo “de”, em “decolonial”, sugere para Bispo uma mera deterioração ou depressão do colonialismo, “contracolonyal” designa as pessoas que, em seus territórios vibrantes, resistem às estruturas colonialistas. Ademais, a grafia “contracolonyal” com “y”, em vez de “i”, evoca a língua tupi, uma vez que esta vogal não existe no português. Essa escolha também se alinha à proposta de Bispo: “vamos botar mais palavras dentro da língua portuguesa. E vamos botar palavras que os próprios eurocolonizadores não têm coragem de falar” (Dos Santos, 2023, p. 14). Assim, a grafia com “y” constitui como uma forma de contracolonyzar a língua do invasor, incorporando a escrita de uma língua originária, ressaltando o ativismo das questões indigenistas. No caminho como ativista socioambiental e das questões indigenistas, encontrei o projeto Escolas Vivas coordenado por Cristine Takuá cujo objetivo é tecer as vidas nas escolas, sendo o oposto do caminho proposto pelas “escolas mortas” – ensinam a ler, escrever, números visando o mercado de trabalho e o acúmulo de teorias, não respeitando o que brota no interior de cada um e uma. O projeto Escolas Vivas propõe o diálogo com as vidas dos territórios, com os outros seres, além da espécie humana, sendo uma proposta de escola indígena diferentemente da instituída pelo governo. Assim, umas das lutas de Cris Takuá, juntamente com outros educadores e educadoras indígenas através da FAPISP (Fórum de Articulação de Professores Indígenas do Estado de SP), foi a criação de uma licenciatura para formar professores indígenas reconhecendo a interculturalidade dos povos indígenas e a necessidade de criar uma ponte de diálogo com a educação tradicional e a educação indígena, conversando com os seres vento, capivara, sabiá, água, pedra, terra, plantas, sonhos. Assim, para confluir com os caminhos da pedagogia contracolonyal, algumas entrevistas foram realizadas: Kerexu Mirin, educadora da etnia Guarani Mbya e aluna da LINDI; Ramilly Erika, cientista ambiental, ativista socioambiental e das questões indigenistas; o artista José Estevam, indígena de retomada, ancestralidade Kaingang, nascido no Alto do Vale do Ribeira; Juan Cusicanki, artista do povo Aymara que vivenciou o período da Ditadura Militar da Bolívia e a sangrenta perseguição aos povos indígenas; e Isabela Rálio, assistente de coordenação da LINDI. Estas colaborações foram essenciais para o desenvolvimento da presente pesquisa, convocando pessoas que estão na linha de frente de caminhos contracolonyays a fim de ampliar territórios de diálogo, conexão e integração pedagógicos, artísticos, ancestrais e de ativismo. O objetivo é desenvolver um caminho de confluências com práticas contracolonyays convocando todo um coletivo de educadores e artistas indígenas, além de ativistas socioambientais e instituições em defesa dos direitos dos povos indígenas. Ademais, Arandu inspirou-me para a temática “Arte e Ancestralidade” – a partir do reconhecimento e resgate da ancestralidade indígena de minha avó materna, Floripes, possivelmente da etnia Tupinambá. Esse resgate culminou na criação, em parceria com o artista e educador João Pedro Luz, da dramaturgia infanto-juvenil “A incrível jornada de Floripes, a flor de ipê” – a peça aborda o resgate da ancestralidade indígena no território da Mata Atlântica, também destacando os direitos dos animais e da natureza. Outros escritos foram desenvolvidos sobre educação, arte, ancestralidade, questões socioambientais e indigenistas, resultando, ao final da presente pesquisa, em um relato poético e reflexivo tendo Arandu em minha companhia. Portanto, Arandu convoca a ampliação da sabedoria, a sensibilidade com os atravessamentos que a existência nos proporciona a fim de confluir com modos de vidas contracolonyays.
Palavras- chave: Pedagogia Contracolonyal, Licenciatura Intercultural Indígena (LINDI), Povos Indígenas, Escolas Vivas, Arandu, Confluir, Escrevivências, Arte e Ancestralidade.
MARIA FERNANDA MINUCI MOTTA — A sinceridade corporal: uma perspectiva de que a vulnerabilidade e a presença do corpo performático retomam vidas travadas
Este trabalho explora como a vulnerabilidade e uma verdadeira presença, manifestadas por meio da expressão corporal, podem atuar como elementos revolucionários na vida cotidiana de alguém que se vê perdida, atravessada por muitas dores, e que busca se tornar uma arte-educadora. A pesquisa investiga de que forma a expressão corporal pode funcionar como veículo de afeto e resistência, desafiando normas sociais cristalizadas e propiciando a cura de travas internas, além da construção de novos modos de ser e estar no mundo. O ponto de partida é a própria melancolia da pesquisadora, que ecoa a despedida retratada em A hora da estrela, de Clarice Lispector, evocando sentimentos de abandono, solidão e a intensa busca por reconhecimento. A partir dessa identificação, a expressão corporal é abordada como resposta possível a estados de invisibilidade, sendo também ferramenta de reconexão sensível com a vida. Inspirando-se e referenciado-se nas práticas performativas de Eleonora Fabião e de Renan Marcondes, esta pesquisa se fundamenta na ideia de que a prática artística pode operar como força micropolítica de transformação — começando, primeiro, pelo próprio corpo. A metodologia adota um enfoque prático e experimental, realizando uma série de três ações performáticas individuais que buscam observar como a percepção de si e do seu estado emocional dentro de uma presença cênica influencia a linguagem corporal. Analisa-se também como essa expressão reverbera no ambiente social e político ao redor, resgatando formas de vida que, em meio à sociedade contemporânea, tendem a se anestesiar. Este estudo entende que, ao abrir o peito para o outro, ao deixar que a vulnerabilidade seja um canal de comunicação real, torna-se possível escapar— ainda que parcialmente — da lógica de distanciamento afetivo que marca o presente. Assim, ao aprofundar o entendimento de seus próprios processos internos, a pesquisadora busca construir mecanismos para escutar também as dores e travas dos outros, com especial atenção ao espaço da sala de aula, onde pretende atuar como educadora sensível, consciente das potências e fragilidades que atravessam cada corpo em formação.
Palavras-chave: Performance; Memória afetiva; Corpo; Acolhimento; Ação.
NICOLE MAGNOSSÃO MANZANO — O que nos torna artistas?: Um estudo sobre a profissão de atrizes e atores na era digital
Esta pesquisa é um estudo sobre a profissão de atrizes e atores na era digital. Com alguns estudos de casos e compartilhamentos de experiências pessoais, nela se discute, principalmente, como os números de seguidores e engajamento nas redes sociais estão sendo cada vez mais valorizados do que estudo e qualificação de trabalho. Também, trata sobre a interseção dessas duas profissões: ator e influenciador digital, e quais são os impactos do encontro delas no mercado de trabalho para os atores. E ainda, mostra o papel do SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões) e a importância do DRT (Registro Profissional para Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões), que historicamente foi garantia de qualificação para o trabalho de atores, mas, que hoje em dia, esse documento não está sendo exigido como requisito para se trabalhar como ator. Esse trabalho se propõe a pensar sobre como o público, que é parte importante do ciclo de consumo, pode ajudar na valorização do trabalho dos atores e da qualidade das produções artísticas.
Palavras-chave: mercado de trabalho, atuação profissional, influenciadores digitais, atores.
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