“A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.”
Jorge Larrosa Bondía, Tremores: escritos sobre a experiência, 2022, p. 25.
“O Bacharelado em Teatro guarda profundo vínculo com a história, com a missão e com a identidade da ESCH, pautadas pela busca de uma formação artística e humana de excelência.”
— Luah Guimarãez, coordenadora da Graduação da ESCH
A Escola Superior de Artes Célia Helena (ESCH) convida toda a sua comunidade teatral a participar da Mostra dos Trabalhos de Conclusão do Bacharelado em Teatro, um momento de celebração, reflexão e compartilhamento dos percursos investigativos de nossos e nossas estudantes.
Nesta mostra, os(as) estudantes apresentam, de forma poética e instalativa, os assuntos discutidos em suas pesquisas de TCC. A variedade de temas evidencia a riqueza e diversidade de perspectivas que alimentam nossa Licenciatura em Teatro e sua proposta de uma pedagogia artística crítica e sensível.
Convidamos todos os corpos docente e discente do Célia Helena Centro de Artes e Educação a se juntarem a nós nessa celebração do conhecimento, da arte e da formação docente.
Gabriela Alcofra
Luah Guimarães
Yonara Dantas
Gabriel Miziara
Henrique Guimarães
Karina Almeida
Apresentações
Carlo Piero Aloise, Gabriela Eugênio, Isadora Avruch da Costa, Júlia Schincaglia Gonçalves e Mariana Zitto
Carlo Piero Aloise
6 atrizes em busca de um diretor. E um diretor em busca de si. Meios para a criação de uma dramaturgia colaborativa em teatro de grupo.
Este trabalho propõe uma investigação sobre os processos colaborativos em teatro, a partir da experiência prática com o coletivo As Bravas, grupo formado por alunas e um aluno do bacharelado em Teatro da Escola Superior de Artes Célia Helena (ESCH). A discussão se dá em diálogo com os modos e procedimentos de criação colaborativa do grupo paulistano Teatro da Vertigem, com especial atenção à sua Trilogia Bíblica, em particular à peça O paraíso perdido (1992). A partir dessa articulação, busca-se formular meios mais eficientes para lidar com questões comuns a artistas de teatro que aderem a esse modelo criativo. O processo colaborativo tem se mostrado eficaz na realização cênica de obras polifônicas, representativas das ideias e desejos dos integrantes de um grupo. Além disso, em resposta às criações coletivas da década de 1970, propõe, sem hierarquias desnecessárias, a reflexão sobre o pensamento do próprio coletivo criador. Conclui-se que, mesmo dentro de uma investigação colaborativa, existem desfalques e flutuações, como em qualquer outro modo de produção, tradicional ou coletivo, mas que o processo pode se revelar uma excelente alternativa para grupos que buscam, nas interferências e interpolações, a construção de uma obra híbrida e de caráter pessoal.
Palavras-chave: Teatro de grupo; Processo Colaborativo; Teatro da Vertigem; As Bravas; Criação Coletiva
Gabriela Eugênio
Corpo que fala
A presente pesquisa aborda o corpo do artista da cena. O estudo foi desenvolvido por meio de experimentações práticas, observações em processos pedagógicos e leituras teóricas. O objetivo geral desta pesquisa é discutir a autonomia no trabalho do ator-criador e identificar estratégias para que este se mantenha ativo em períodos de inatividade. De acordo com o estudo desenvolvido, é possível demonstrar o percurso para a construção desse território de trabalho através de abordagens tanto exploratórias quanto qualitativas. Por fim, a pesquisa constatou a existência de fatores que possibilitam ao ator/atriz manter-se em atividade, mesmo em momentos de hiato.
Palavras-chave: Autonomia; Auto pesquisa; Corpo; Solidão.
Júlia Schincaglia Gonçalves
Buscando presença através da memória
Esta pesquisa se desenvolveu a partir da realização de diferentes práticas de movimento e imobilidade que proporcionaram algo como uma expansão energética necessária à criação, na intenção de investigar como a expansão de consciência, obtida pela manipulação das energias corpóreas, podem conduzir o corpo atuante para um estado de presença pleno e a realização de movimentos mais orgânicos para a cena, que são aqueles que surgem naturalmente através da conexão com a respiração, fluxos energéticos e a percepção das estruturas corporais, que segundo Grotowski é o movimento gerado pelo impulso e prontidão física revelados pelo corpo. Junto do viés prático, a pesquisa acompanha um diário de montagem/práticas, cujo objetivo foi relatar os caminhos por onde o corpo atuante transitou ao longo da investigação, como: a exaustão, dramaturgias constituídas pela memória corporal e a dilatação energética pela imobilidade. Visando um estado de atenção e presença cênica e cotidiana mais ativas ao corpo da atriz-pesquisadora-autora. Portanto, o assunto central desse trabalho é a preparação desse corpo que antecede a cena, e a busca do movimento pelo movimento, que baseado em Cunningham, é a dança/expressão desassociadas da música ou da narrativa, onde o movimento surge de forma autônoma, experimental e aberta ao acaso, sem precisar ser algo conhecido ou esteticamente atraente, apenas uma movimentação ocasionada pelo impulso. O projeto gerou uma performance que viabiliza a expressão em fluxo livre do corpo atuante, que se movimenta pelo empírico e se guia pelo sensorial capaz de discursar sobre assuntos do “eu íntimo” que fruam para o coletivo. Além de uma arqueologia do processo criativo que contém análises teóricas e registros de relatos pessoais de práticas realizadas ao longo da pesquisa e do ano letivo.
Palavras-chave: teatro, preparação, corpo, cena.
Isadora Avruch da Costa
A Lei de Fomento ao Teatro, o movimento Arte Contra a Barbárie e a sobrevivência do teatro de grupo na cidade de São Paulo
O presente trabalho visa analisar e produzir reflexões sobre a Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo e seu impacto na produção do teatro de grupo durante seus dez primeiros anos de vigência, bem como sobre o movimento de classe Arte Contra a Barbárie, responsável por sua elaboração e posterior promulgação, a fim de pensar estratégias de viabilização das produções da cena teatral alternativa. Esta pesquisa foi realizada por meio do levantamento bibliográfico sobre o tema, tendo como referencial pesquisadores do campo das artes cênicas e da produção cultural, além de artistas que estiveram envolvidos com as pautas do movimento e, ainda, documentos produzidos pelo Arte e textos normativos diversos. Na primeira parte do trabalho, procurou-se tratar do conceito de teatro de grupo e de apresentar um panorama sobre o Arte Contra a Barbárie. Na segunda, discutiu-se a Lei de Fomento, seus efeitos, limites e possibilidades de aprimoramento. Concluiu-se que, apesar de suas limitações, o programa instituído pela norma em questão contribuiu com a manutenção e ampliação do teatro de grupo na cidade e deve, portanto, não só ser mantido, como aprimorado por meio do aumento de verbas, democratização do acesso, alteração da forma de avaliação pelas comissões e outras demandas que extrapolam seus contornos atuais.
Palavras-chave: Políticas públicas; Artes cênicas; Produção cultural; Economia da cultura; Produção alternativa.
Mariana Zitto
M(eu) processo de vir a ser: a encruzilhada entre a vida e a arte
Este trabalho investiga a relação entre o ator e o personagem, tomando como ponto de partida a minha própria experiência cênica. Perguntas como “Quem sou eu como atriz e como pessoa?” e “Onde termina o personagem e começa o ator em cena?” orientam o percurso criativo e reflexivo da pesquisa. Trata-se de um mergulho subjetivo na busca pela minha expressividade enquanto artista-criadora, em que inquietações pessoais se transformam em prática, experimentação e ação. A pesquisa explora a corporeidade e a poética pessoal a partir de vivências ligadas ao amor, à dor e ao prazer das relações afetivas, considerando também as tensões entre autoconhecimento e amadurecimento. O caminho criativo parte de mim mesma para se abrir ao encontro com o outro, num processo de subjetivação em que a realidade é manipulada em favor da experiência estética. Como processo de pesquisa, desenvolvo um monólogo de dramaturgia autoficcional, construído a partir de práticas corporais. A cena é estruturada em torno dos elementos da natureza — terra, água, ar e fogo —, que, por meio de seus significados simbólicos, dão forma às dificuldades e à beleza do florescer do “vir a ser na criação”. O processo de criação inclui ainda a elaboração de fotos-performances, que não apenas visualizam esses elementos, mas também alimentam a cena performativa. Se a mente se perde, é o corpo em cena que a reencontra. A dimensão escrita do trabalho apresenta um relato processual, construído em forma de diário de bordo, no qual se articulam vivências práticas e referenciais teóricos. Trata-se, portanto, de uma reflexão sobre como encontrar a mediação entre o eu e o público, transformando o íntimo do processo de pesquisa em experiência compartilhada.
Palavras-chave: Performance; Processo; Autobiografia; Corpo; Expressividade
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