Pela primeira vez em sua trajetória, a Revista Olhares, periódico acadêmico da Escola Superior de Artes Célia Helena (ESCH), traz em sua capa uma artista indígena: a premiada atriz, cantora, ativista, artista plástica e diretora Zahỳ Tentehar. Sua presença destaca a relevância de perspectivas renovadas sobre as artes da cena, expandindo o horizonte de percepções e modos de conceber a performance cênica a partir da cosmovisão genuína do povo indígena Tentehar, do qual Zahỳ é integrante.
Entrevistada na seção Retrato, Zahỳ foi uma das convidadas da IX Semana de Arte e Sociedade, promovida em maio de 2024 pela ESCH, onde compartilhou seu itinerário, marcado por desafios e o entendimento de culturas diversas e díspares: a que viveu com sua etnia e a que teve que percorrer para ser reconhecida como atriz pesquisadora.
“Quando falamos sobre ancestralidade logo nos remetemos aos povos indígenas ou africanos. Mas todo mundo aqui tem ancestralidade. Todo mundo aqui é ancestral. Por que só os povos indígenas têm ancestralidade? Por que a gente só pensa no outro e não se coloca no outro? Sempre queremos separar o outro da gente. E assim a gente faz com a nossa natureza. A gente se separa dela. Então eu me pergunto por que e para que chegamos a tal ponto onde a gente não sobrevive mais sendo natureza.”
Zahỳ Tentehar em entrevista na seção Retrato. Revista Olhares, n. 12, p. 74.
Destaques da 12ª edição
Fluxo Contínuo
Aprofundando uma análise sobre o trabalho da artista, a seção Fluxo Contínuo conta com o artigo “Acoplamento e copresença xamânica na voz rapsódica da peça-poema Azira’I”, de André Gardel, que reflete sobre o espetáculo solo da atriz, afirmando a decolonização do Cânone Ocidental e do imaginário.
Em “Walkshop Paris: notas sobre um processo de criação com a cidade”, Francis Wilker, Verônica Veloso e Glauber Coradesqui apresentam a noção de walkshop, prática artística e pedagógica pautada no caminhar e no encontro com a paisagem; performers vivenciam outras formas de relação com a cidade enquanto percorrem seus espaços.
No artigo “Neva Leona Boyd: uma assistente social na origem da educação popular e teatral (1876-1963)”, William Berger destaca a trajetória de Neva Boyd, uma das maiores referências do Serviço Social e da Pedagogia Teatral, cujo trabalho com jogos recreativos praticados com imigrantes na Hull House, no estado de Illinois (Estados Unidos) deu subsídios para Viola Spolin sistematizar e consolidar a prática de jogos teatrais para crianças.
Com “Gestão e políticas públicas culturais na região oeste da Bahia: análise dos desafios de acesso, democracia, fruição e profissionalização dos gestores culturais”, Diva Bonfim destaca os desafios de produtores, agentes culturais, povos originários, ciganos e quilombolas em relação à promoção da diversidade cultural.
Em “Os Mouros: Otelo e Dom Casmurro, conexões e recriações”, Camila Costa Melo aborda conexões entre William Shakespeare e Machado de Assis, observando aproximações, distanciamentos e as possibilidades de recriação artística a partir de seus significados e sentidos.
Novas Perspectivas Acadêmicas
Dedicada à divulgação de trabalhos de jovens pesquisadores em início de carreira, esta seção, recém-lançada, busca destacar olhares inovadores no campo das artes.
Na estreia, em “Objeto ‘dramaticional’: do cotidiano à fantasia”, Thiago Neves faz uma aproximação entre O jogo dramático infantil, de Peter Slade, e conceito de “Objeto Transicional”, de Donald Winnicott, focando sua observação no papel do objeto cênico em jogos teatrais com crianças de 4 a 6 anos.
Em seguida, em “A potência emocional do som: como as trilhas sonoras moldam a experiência dos ouvintes e aproximam pessoas do ambiente musical”, Eleonora Scremin Bronzolli reflete sobre o papel expressivo da trilha sonora na criação cênica e musical.
Resenha
Encerrando este volume, Larissa da Matta nos apresenta a resenha do livro Casa do Teatro de portas abertas: práticas de teatro para crianças e adolescentes, organizado por Karina Almeida, Marcos Barbosa e Vitória Cortez. A obra registra a trajetória e as experiências de 40 anos da Casa do Teatro, o curso do Célia Helena voltado a crianças e adolescentes.
Submissões
Desde 2023, a revista Olhares recebe submissões de artigos e ensaios inéditos em fluxo contínuo. Aceitam-se textos que contribuam com pesquisas e proponham reflexões sobre o campo das artes da cena. O objetivo é criar uma rede de saberes transversais, formada por artistas, docentes e pesquisadores da área, para registro e disseminação de trabalhos e investigações.

