O teatro é, por excelência, um espaço de encontros e de crises. De qualquer grande realização teatral, sobrará sempre, na memória de suas testemunhas (dentro ou fora do palco), a certeza de que o embate de vontades nunca é isento de alguma fricção e nunca se exime de alguma violência. Sob essa ótica, o teatro é um modelo a um só tempo reduzido e ampliado da metrópole – essa conflagração gigantesca dos choques de vontades, que a cada dia põe à prova o melhor e o pior de cada um de seus cidadãos, tecendo, na ficção da vida, um enredo de contornos improváveis que, sem caber em nenhuma sigla partidária, é justamente a matéria-prima absoluta do que chamamos de política.
Em seis encontros temáticos, o Seminário São Paulo – Cena Contemporânea, uma realização da Escola Superior de Artes Célia Helena – ESCH com copatrocínio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, convidará o teatro a pensar a metrópole e a metrópole a pensar o teatro, reconhecendo a importância dos encontros que não se limitam à mera troca de cortesias, mas que aceitam o embate e a instauração da crise de pensamento como espaço privilegiado para a produção luminosa de ideias. Nesse itinerário, serão discutidos, no contexto do teatro praticado na cidade de São Paulo, temas como a produção em dramaturgia, a atuação dos críticos, a formação de atores, as políticas públicas de financiamento, a ocupação de espaços alternativos e, ainda, a cada vez mais crescente tensão entre especulação imobiliária e constituição de espaços teatrais – cobrindo, assim, um espectro significativo dos problemas que constituem, atualmente, o lugar do teatro da metrópole e o lugar da metrópole no teatro.
Esperamos, assim, levar adiante, com o devido brio, a missão da Escola Superior de Artes Célia Helena na promoção de um teatro que não se conforma em ser mero objeto ou produto, mas que – sendo um local de onde se vê é, ainda, um local em que se formam pontos de vista. Ocuparemos justamente um edifício teatral, o Teatro Célia Helena, onde faremos do palco uma tribuna e da plateia uma ágora, para que atores, diretores, dramaturgos, críticos, acadêmicos e políticos compareçam e cumpram com a missão de posicionamento em torno das questões do teatro, tendo a cidade por testemunha.