“A formação do ator deve contemplar, além do conteúdo técnico, também um pensamento crítico, criativo e ético, determinante e historicamente parte do ofício de um artista-criador.”
Célia Helena (1936-1997), atriz, diretora e especialista em pedagogia para jovens, nasceu em São Paulo e, aos 16 anos, por não poder cursar a recém-criada Escola de Arte Dramática – EAD, iniciou seus estudos com Ruggero Jacobbi, diretor italiano, responsável por ministrar um curso de atuação para cinema no Centro de Estudos Cinematográficos de São Paulo.
Em 1953, estreou no cinema no filme Fatalidade, produzido por Mario Civelli e dirigido por Jacques Marret e, nesse mesmo ano, foi convidada para integrar o elenco de Inimigos íntimos, de Barillet e Grèdy, uma produção da primeira companhia estável do Brasil, o Teatro Brasileiro de Comédia – TBC, com direção de Adolfo Celi.
Em 1955, trabalhou na televisão Paulista, no programa Teatro da Semana, dirigida por um jovem muito talentoso, Antunes Filho, e, no Teatro de Arena, atuou em O prazer da honestidade, de Luigi Pirandello.
Artista ímpar e atuante, participou dos principais movimentos de vanguarda e renovação do teatro brasileiro da década de 1960: Teatro de Arena, Opinião e Oficina.
Em 1960, integra o elenco da montagem Boca de ouro, de Nelson Rodrigues, sob a direção do diretor polonês Ziembinski. No ano seguinte, junto ao Teatro Oficina, participa dos estudos conduzidos por Eugênio Kusnet sobre o trabalho do ator, a partir do sistema de Stanislávski. No Oficina, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, atua em A vida impressa em dólar, de Clifford Odetts. Interpretando Tatiana, de Pequenos burgueses, de Máximo Górki, ganha todos os prêmios de melhor atriz em 1963. Em 1964, ainda no Oficina, atua em Andorra, de Max Frisch, e em Os inimigos, de Máximo Gorki, em 1966.
Em 1972, paralelamente à atividade de atriz, inicia seu trabalho inovador e pioneiro de formação de jovens, por meio do teatro, com um propósito social e educacional. sempre levando em consideração a troca de saberes para a formação da cidadania, desenvolvimento pessoal, formação humana e cultural.
Em 1977, o trabalho desenvolvido em comunidades no interior do Estado de São Paulo com crianças e jovens, impulsiona a criação de um espaço agregador e de encontro de adolescentes por meio da arte, o Teatro Célia Helena, com cursos de orientação teatral. Um lugar dedicado à criatividade, à sociabilidade, à autonomia criativa e à produção de trabalhos autorais de jovens como sujeitos pensantes e críticos.
Para garantir o reconhecimento do trabalho desenvolvido nos cursos de orientação teatral, Célia Helena dá início ao diálogo com o Sindicato dos Artistas e Técnicos do Estado de São Paulo e com o Ministério do Trabalho, após a regulamentação das profissões de artista e de técnico (Lei 6533/78). Após as articulações, os integrantes do grupo Quem Tá Vivo Sempre Aparece (núcleo de jovens do curso de orientação teatral empenhado em criar espetáculos alinhados às questões sociais e culturais) receberam o Registro Profissional de ator/atriz.
Em 1983, a atriz Lígia Cortez, filha de Célia Helena, cria a Casa do Teatro, em que o curso de teatro, como linguagem múltipla, é desenvolvido a partir da interface com as linguagens das Artes da Cena: dança, música, artes plásticas, circo, teatro de formas animadas para crianças e jovens, a partir de 4 anos de idade.
Em uma iniciativa pioneira, em 1989, Célia Helena cria o curso técnico de formação de ator/atriz para jovens a partir dos 14 anos, consolidando a oferta de um curso autorizado e reconhecido pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
Para ampliar ainda mais a formação nas áreas artística e de pesquisa, em 2008, a atriz e diretora Lígia Cortez cria a Escola Superior de Artes Célia Helena (ESCH), com o curso de Graduação, bacharelado em Teatro. Como consequência natural, as ações da ESCH têm como prioridade a valorização dos estudos continuados nas modalidades de Iniciação Científica, Extensão, Pós-Graduação lato sensu e sctricto sensu, com o curso de Mestrado Profissional em Artes da Cena.
O legado, os fundamentos pedagógicos e o ideário de criação de cursos para formação artística de jovens foram fundamentais para a continuidade, permanência e reconhecimento do Célia Helena Centro de Artes e Educação, junção das escolas.