Fotoperformance: AS ANCAS E AS ASAS EMPLUMADAS

PROCESSO DE AUTOCONHECIMENTO PARA O CORPO CRIATIVO

AS ANCAS E AS ASAS EMPLUMADAS

“Ser negro não pode ser resumido a um estado de espírito, a alma branca ou a alma negra, a aspectos de comportamento que determinados brancos alegaram como sendo negro e adotá-los como seu.” 
(Beatriz Nascimento)

Suleada pela investigação do eixo do imaginário, recorro ao verbo mover buscando identificar nas estruturas ósseas(quadris e escápulas) as dramaturgias corporais que me permeiam.
Imbuída dos saberes ancestrais das práticas de terreiro no processo do meu abyanato – conhecer a natureza de si, dos ciclos, de refazer elos rompidos, vivenciar o pertencimento, às pluralidades de existências e o tempo espiralar, provoco- me a indagar o que aguça essa matéria corpórea retinta.
Ponho-me nas movências em sala de estudos e na prática pessoal identifico a deusa Yorubá ligada a Egungun (ancestralidade): Oya.
Iyansan ou Iansã representa um rio que faz seu próprio caminho, um raio que traça seu destino e a fêmea do búfalo que decide o melhor caminho na mais densa floresta, e no exercício de escuta, debruço-me a conectar as dimensões de dentro e de fora mapeando por meio de enunciados (rezas, cânticos, relatos míticos, palavras-chaves) a energia dessa orixá no corpo especificamente na qualidade Oya Onirá ou Oya Borboleta (transmutação).
Ancoro-me nos ensinamentos de Adilbênia Freire Machado:

Os saberes ancestrais femininos propõem que nos autorizamos a contar nossas
histórias, a construí-las, reconstruí-las, contar sobre nossos valores, nossos saberes,
nossas lógicas de pertencimento, de sociedade, de partilha, contar sobre nós mesmas,
desde nossas escrevivências. Filosofar anunciando, resistindo, reexistindo, em um
desafio cotidiano de descolonização, desconstrução, transformação. Ações e
encantamento! Aprender a ouvir / sentir / conhecer / filosofar de corpo inteiro, desde
o chão que pisamos e que nos fortalece, é enraizar-se. O enraizamento é um
movimento de expansão, fixação, movimento e profundidade, absorção da água para
manter a energia vital. (MACHADO, 2014, n. p.)

Elaboro uma fotoperformance a fim de efetivar o processo do corpo em experimentação de si e a potência da construção criativa a partir dessa jornada.
Eparrey Oya!